Lucas 4:17-19
Estudos

“Porque: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: “Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” Mas nem todos obedeceram ao Evangelho. Pois Isaías diz: “Senhor, quem creu em nossa pregação?” E, assim, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo” (Rm 10:13-17, NAA).

INTRODUÇÃO

Romanos 10:13-17 pode ser considerado uma “síntese da atividade missionária”. O ensino bíblico sobre a salvação é que, para ser feito filho de Deus é necessário “crer”: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1:12). Sem esse processo a salvação simplesmente não acontece. É impressionante a lógica de missões apresentada por Paulo: as pessoas têm que invocar o nome de Deus para serem salvas, para que O invoquem precisam ouvir sobre Ele, para que ouçam é preciso que alguém O proclame e para proclamar é preciso ser enviado. “O processo de vir à fé e à salvação é aqui exposto como em nenhum outro lugar”11. Se compreendermos essa lógica entenderemos o quanto “missões” é um assunto de tamanha urgência e, para exemplificar transcrevemos abaixo uma carta de um homem de uma aldeia em Papua- Nova Guiné que pede pelo Evangelho: 

Carta do grupo étnico Isahu:

18/11/2014 por Stephen Narwold

Sim, escrevo-lhes porque tenho algo para vocês. Estou muito preocupado porque não estou seguro do que sucederá quando chegar a morte. Escutei de outra tribo que tem a missão (NTM), que agora eles sabem; eu sinto por mim, porque não o sei. Preocupa-me minha vida, por isso lhes peço que enviem a missão (NTM) para a minha aldeia.

Os homens e as mulheres da aldeia Isahu estão sedentos desse ensino que estará em nossos ventres. Por favor, tenham compaixão de nós. Temos ouvido que em todos os outros lugares da terra tem o Falar de Deus, porém nós, os de Isahu, não temos nada. Escutei que outros estão ouvindo esse ensino em outras aldeias, porém ainda não temos aqui em Isahu. Assim sendo, por favor, enviem alguns para que aprendam nossa língua e nos transmitam esse ensino para que nós também possamos conhecê-lo.

Por favor, tenham piedade de nossas vidas, não sabemos o que será de nós quando a morte chegar. Assim , [...] estou pedindo-lhes encarecidamente que venham onde nós moramos e nos transmitam esse ensino. Esse é o caminho acerca do qual eu escutei que se ouvirá, é por isso que [...] enviei essa carta a vocês, os chefes de NTM (New Tribes Mission). Nossa língua não é difícil aqui em Isahu, venham por favor.

Bom dia a vocês.

Sou Aiben Awanhi, da aldeia Isahu12.

Nem todos escreverão uma carta a uma agência missionária rogando que lhes façam uma visita e apresentelhes o Evangelho, mas o clamor por socorro espiritual ecoa por toda parte, até mesmo em forma de um estilo de vida supostamente “feliz, livre e bem resolvido consigo mesmo”.

Segundo o site Joshua Projet, da Missão Frontiers, há no mundo 17406 grupos de povos e dos quais 7401 são povos não alcançados. Ou seja, dos 7,84 bilhões de habitantes no mundo, 3,27 bilhões são pessoas não alcançadas pelo evangelho (cerca de 40%). Muitos povos não têm sequer um cristão entre eles13. Voltando ao texto bíblico: “E como crerão naquele de quem nada ouviram?” Creio que a carta de Aiben Awanhi que transcrevemos diz tudo. Os povos estão na escuridão do pecado, Jesus diz que Ele é a luz do mundo: Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8:12). Alguém tem que levar essa luz aos mais de 40% dos povos do mundo que ainda não creem em Jesus. Sem ouvir, não poderão crer. Pois bem, o tema do estudo de hoje é uma pergunta que nos desafia: “como ouvirão se não há quem pregue”? Pensando em missões como atividade vital para a Igreja de Cristo propomos alguns tópicos que nos ajudarão a responder ao tema: 

 O PAPEL DA IGREJA

A Igreja é o povo escolhido de Deus: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9, grifos nossos). Cabe a ela o papel missionário. A salvação dos perdidos deve ser sua prioridade, pois todas as demais atividades giram em torno dessa necessidade maior. John Sttot lança o seguinte comentário a esse respeito:

“Os cristãos deveriam sentir uma aguda dor de consciência e compaixão, quando seres humanos são oprimidos ou negligenciados de alguma maneira [...]. Qualquer coisa que destrói a dignidade humana deve constituir uma ofensa para nós. Mas existe algo tão destrutivo da dignidade humana quanto a alienação de Deus, por meio da ignorância ou da rejeição do evangelho? [...] atentem para o que o apóstolo Paulo diz quando escreve com ênfase solene sobre sua preocupação por seus companheiros judeus. [...]. “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles é para que sejam salvos” (Romanos 10.1), e o contexto deixa claro, longe de qualquer dúvida, que a “salvação” que Paulo desejava para eles era sua aceitação diante de Deus (v. 2-4). O fato de poucos de nós sentirmos essa agonia interior ‘ - se é que alguém realmente sente isso - é um sinal de nossa imaturidade espiritual”14 (grifos nossos).

A salvação das pessoas deve mexer com a consciência de todo cristão. Olharemos, nesse momento, para a igreja local, especificamente. É sobre ela que recai maior responsabilidade no tocante à obra missionária. Carlos Del Pino comenta que: “A obra missionária é basicamente uma responsabilidade da igreja local, pois esta é o celeiro de missionários. É da igreja local que saem os recursos para as missões e por ela devem ser administrados. Ela é que deve se preocupar com os grupos não alcançados da cidade, da região e de todo o mundo”15. O mesmo autor aponta quatro atitudes que nossas igrejas precisam ter frente à obra missionária16:

1. A igreja local precisa receber, compreender e assumir seu papel na obra missionária, além de compreender as dimensões bíblica, espiritual, cultural e financeira dessa tarefa. [...] A obra missionária não é uma responsabilidade dos líderes em última análise, mas da Igreja como um todo, como povo de Deus.

2. A igreja local, uma vez que compreenda sua importância para as missões, não pode transferir essa responsabilidade. Nenhuma agência missionária, denominacional ou não, poderá assumir a responsabilidade da igreja local [...]. Da igreja local é a visão e a vocação, e dela também deve ser o empenho, o esforço [...].

3. A igreja local precisa ainda assumir por completo sua responsabilidade missionária [...].Não basta orar, impor as mãos e se regozijar: é preciso também assumir o sustento integral de seus obreiros e missionários [...].

4. Por fim, a igreja local precisa conscientizar-se e ver a si mesma como a principal agência missionária da face da terra. Ela deve orar com isso em mente, agir com isso em mente, pregar com isso em mente, trabalhar com isso em mente.

Considerando o que expomos acima, voltemos à Bíblia.

No capítulo 13 de Atos lemos que na Igreja de Antioquia havia um grupo de profetas e mestres que estavam adorando a Deus e jejuando, quando o Espírito Santo separou Barnabé e Saulo para a missão de evangelização. O texto diz que jejuando e orando e impondo as mãos sobre eles, os despediram (At 13:1-3). Vemos aí a primeira Igreja fora de Jerusalém, de maioria gentia, enviando os seus missionários.

A missão principal da Igreja é evangelizar os povos, seja no seu entorno ou mais distante. Ela faz isso através do envio de missionários, e ao fazê-lo, a Igreja precisa comprometerse com duas coisas: sustentá-los financeiramente e espiritualmente com abundantes orações. Os povos que ainda não foram alcançados, muitos deles estão em países hostis ao cristianismo. Nesses países, os missionários não são bemvindos. Por isso, a Igreja tem o dever de cobri-los com oração. Também deve orar para que Deus abra os corações dos povos que serão evangelizados. Enviar é uma prerrogativa da Igreja. Portanto, as Igrejas que são fiéis à Palavra de Deus, estão preocupadas em enviar missionários e orar por missões17.

De acordo com Peters18, dentro de sua prerrogativa missionária, a igreja tem por obrigação, através da proclamação do Evangelho: 

1. [...] apresentar Cristo vividamente, compreensível, atraente, de forma eficaz e convincente para o mundo e para o indivíduo como o salvador de Deus, o Senhor soberano do universo, e (sua) vinda (como) juiz da humanidade.

2. [...] levar as pessoas a uma relação de fé com Jesus Cristo, a fim de que eles possam experimentar o perdão dos pecados e novidade de vida. O homem 54 | Estudos Bíblicos deve nascer de novo [...] para herdar a vida eterna e comunhão eterna com Deus.

3. [...] congregar os crentes através da administração de batismo e construí-los [...] igrejas cristãs. A comunhão cristã constitui uma parte vital da vida cristã.

4. Estabelecer os crentes na doutrina cristã, princípios e práticas da vida cristã, a comunhão cristã e serviço cristão, ensinando-os a guardar todas as coisas. Isto é [...] a formação de discípulos cristãos [...].

5. treiná-los (os convertidos) em uma vida do Espírito Santo. Uma vez que a vida cristã [...] só pode ser vivida em dependência absoluta (do) Espírito Santo [...] (parênteses nossos).

A ORAÇÃO COMUNITÁRIA

Missões tem tudo a ver com oração. Jesus, nosso exemplo maior, disse aos Seus discípulos: “rogai ao Senhor que envie obreiros para sua seara”. O apóstolo Paulo roga à igreja de Éfeso dizendo: “E orem também por mim, para que, no abrir da minha boca, me seja dada a palavra, para com ousadia tornar conhecido o mistério do evangelho” (Ef 6:19, grifo nosso). Ele faz o mesmo pedido em 1 Tessalonicenses 5:25 “orai também por nós”. Muitos outros exemplos de oração poderíamos citar na Palavra de Deus, pois são abundantes. É fundamental que a Igreja do Senhor lembre sempre que: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5:16). 

Ao lermos o livro de Atos percebemos que a pregação do Evangelho sempre está ligada à oração da Igreja. A oração que chama muito a atenção é a oração de Pedro, após ter comparecido diante do Sinédrio, em Atos 4:23-30, para explicar porque tinha curado o mendigo coxo. Quando ele e João encontram-se com a Igreja que estava reunida (provavelmente orando por eles) Pedro faz uma oração impactante: “Agora, Senhor, olha para as ameaças deles e concede aos teus servos que anunciem a tua palavra com toda a ousadia, enquanto estendes a tua mão para fazer curas, sinais e prodígios por meio do nome do teu santo Servo Jesus” (At 4:29,30). E Lucas nos informa que Deus respondeu fazendo tremer o lugar. Eles foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a Palavra de Deus. Vamos pensar um pouco sobre essa oração: 

1) Há um momento de adoração: “Tu, Soberano Senhor, fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há”!

2) Constatação de que o que ocorrera era propósito de Deus: “...para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram”.

3) Pedem que Deus olhe para as ameaças dos judeus e conceda aos cristãos que anunciem a Palavra com mais ousadia: “Agora, Senhor, olha para as ameaças deles e concede aos teus servos que anunciem a tua palavra com toda a ousadia”.

4) Enquanto isso, que Deus operasse sinais e prodígios por meio do nome de Jesus: “enquanto estendes a tua mão para fazer curas, sinais e prodígios por meio do nome do teu santo Servo Jesus”.

Interessante que em nenhum momento pediram que Deus os livrasse das perseguições, que calasse a boca dos príncipes judeus, mas sim que lhes desse ousadia. Que os milagres acontecessem por meio do nome de Jesus. Não há menção do nome de nenhum dos apóstolos na oração, mas diz que de forma “unânime” levantaram um clamor a Deus, ou seja, com a mesma disposição, mesmo propósito e sentimento. O Senhor fez “tremer o local onde estavam” e eles então “ficaram cheios do Espírito Santo e, com ousadia, anunciavam a palavra de Deus”. (At. 4:31b)

Outra vez que temos um relato da oração da igreja (comunitária) foi por ocasião da prisão de Pedro, por Herodes. O texto nos relata que a Igreja fazia oração incessantemente a Deus em seu favor: “E assim Pedro estava guardado na prisão; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele” (At. 12:5). Mais uma vez a resposta de Deus veio de forma extraordinária, as portas da prisão foram abertas por um anjo, as correntes caíram de suas mãos e Pedro foi livre. 

A Igreja também estava em oração quando enviou Barnabé e Saulo, embora o texto já tenha sido citado no tópico anterior vale ressaltar sua importância mais uma vez, dando ênfase à oração: “Então, jejuando e orando, e impondo as mãos sobre eles, os despediram” (At 13:3, grifos nossos). Essa foi a primeira viagem missionária de Paulo, que aconteceu em um ambiente de oração e direção do Espírito Santo. A igreja em Antioquia assumiu um compromisso de apoio aos missionários enviados, impondo-lhes as mãos os “despediram”. Esse “despedir” significa uma “liberação” ou “autorização” para partir, ou seja,  os apóstolos saíram, mas com o aval e apoio da igreja onde congregavam naquele momento.

Isso serve de alerta. Muitos hoje pensam que seu “chamado” ao campo missionário acontece de forma isolada, sem levar em conta se terá ou não apoio e consentimento de sua igreja. Alguns se auto intitulam “pregadores itinerantes”, sem contudo, pertencer a uma comunidade eclesiástica e nem mesmo respondem a uma liderança ou pastor. Com isso, colocam-se em riscos desnecessários e não poucas vezes causam mais escândalos do que de fato fazem a obra de Deus. Não afirmamos que todos são mal intencionados ou não sejama sinceros. Na maioria das vezes as intenções e motivações são boas, faltando-lhes a instrução correta. Missões é uma obra divina, mesmo sendo algo glorioso não devemos “romantizá-la”, a ponto de pensarmos que é só “sentir vontade” e se aventurar sem o devido preparo. 

 Todo cristão é, em certo sentido, um “missionário”, visto que encontra-se em missão neste mundo. Sobre isso John Piper escreve:

“Os mensageiros efetivos do evangelho são enviados por Deus. Falar sobre Cristo não é mero impulso humano. Deus abençoa mensageiros do evangelho que foram enviados por Deus. Tome cuidado aqui! Não diga: “Eu não fui enviado, portanto eu não falo”. Em vez disso, diga: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me. Envia-me aos não alcançados. Envia-me às vizinhanças urbanas de minha cidade. Envia-me a atravessar a rua em meu bairro residencial que perece. Envia-me aos do escritório. Envia-me ao telefone hoje. Envia-me!” Sim existe um chamado divino e um envio mais oficial e vocacional – é o que tenho como pastor vocacionado para minha igreja. Alguns de vocês têm ou terão essa espécie de chamado. Mas existem chamados e envios mais espontâneos, e ocasionais. Se Cristo habita em você, você experimentará isso. Vamos orar para que isso aconteça conosco cada vez mais19”. 

 Ainda sobre a oração, vejamos que Paulo pediu à Igreja de Colossos que orasse por ele: “Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso” (Cl 4:3). Mais uma vez a preocupação de Paulo não era em relação somente a si mesmo ou aos seus irmãos em Cristo que estavam presos com ele. Seu pedido é para que a Palavra não ficasse presa, restrita, mas que fosse livre (e amplamente) proclamada.

 INTERCESSÃO

Interceder é pedir em favor do outro. A Bíblia apresenta alguns exemplos de intercessão: Abraão intercedeu por Sodoma e Gomorra (Gn 18:22-33), Moisés intercedeu pela nação de Israel (Ex 32:9-14), Davi intercedeu pelo povo, para que o Senhor não destruísse Jerusalém (1Cr 21:1-17), Daniel orou por Judá, no cativeiro (Dn 9:1-19). O próprio Jesus também orou: especificamente por Pedro (Lc 22:31,32), por Seus discípulos (Jo 17:9-18) e por todos quanto viessem a crer n’Ele (Jo 17:20,21). Lembramos que Jesus é, por excelência, nosso Eterno Intercessor, como afirma Hebreus 7:25 “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (grifo nosso).

 Acreditamos ser óbvio que nesse século, precisamos de quem interceda por missionários e por povos não alcançados. Depois de fazer uma lista de pecados do povo de Judá, o profeta diz a respeito de Deus: “E vendo que ninguém havia, maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; por isso o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve” (Is. 59:16, grifo nosso). O Senhor Deus procurou e não havia ninguém que intercedesse pelo povo pecador. É oportuno destacar que a tradução que mais se aproxima seria que o Senhor “ficou estarrecido, desolado, apavorado”20. Parece-nos que Deus quer que haja intercessores, e que estes tenham a capacidade de sentirem as dores e necessidades alheias. Nesse sentido Isaías 59:16 tem muito a ver com intercessão na obra missionária. Vejamos:

Quanto à necessidade de obreiros Jesus recomenda: “E dizia-lhes: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara” (Lc 10:2, grifo nosso). Aqui não se destaca apenas a necessidade de obreiros, mas também a urgência no trabalho missionário. “A solicitação ‘Rogai ao Senhor’ constitui a parte mais importante de todo o discurso. O Senhor espera pela oração em prol do envio dos trabalhadores. A oração é e nunca deixa de ser o principal! A oração gera e cria os trabalhadores para o Senhor! [...]”21. 

No texto do Evangelho de João quando o Senhor tem um encontro com a mulher samaritana no poço de Jacó, o Mestre fala da urgência da missão: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa” (Jo. 4:35). Os discípulos deveriam levantar os olhos e ver. Jesus diz que os campos estavam brancos para a colheita. Parece haver um jogo de palavras utilizado por Jesus. Quando o trigo e a cevada estão no ponto de colheita, a sua palha fica com uma cor clara dando à impressão que está branca, assim a colheita estava começando. Os povos estavam prontos para receber o Evangelho. “As palavras de Jesus teriam este sentido: ‘vocês sempre dizem: são quatro meses da semeadura à colheita – mas vejam: mal a semente foi lançada e a colheita já está madura!’(referindo-se à aproximação das pessoas de Sicar). Esta interpretação é mais provável”22. Corroborando com essa interpretação Champlin comenta: “[...] Jesus não contemplava um campo plantado, para cuja colheita ainda faltavam vários meses, e, sim, contemplava uma colheita de homens, os quais esperavam orientação para suas almas, nas veredas espirituais que os levassem à redenção”23. 

 O trabalho era enorme, os ceifeiros eram poucos. Por isso, dentro desse contexto de urgência os discípulos deveriam pedir ao Senhor da seara que enviasse mais trabalhadores. A Igreja deve interceder por mais obreiros, para que Deus crie oportunidades de plantar novas comunidades de fé e para que os novos convertidos permaneçam fiéis. Orar por mais obreiros não é opcional. O texto de Lucas citado acima é claro: “rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara”, rogai é imperativo, ou seja, é uma ordem. A Igreja tem por obrigação orar pelo despertamento missionário.

 O ENVIO DE MISSIONÁRIOS

Já afirmamos acima que não é prudente um “chamado” que não esteja em conexão com a comunidade de fé onde a pessoa é membro. Mas por outro lado a Igreja deve estar disposta também a assumir suas responsabilidades. Oswaldo Prado faz um alerta nesse sentido:

“Não são poucos os que afirmam não terem recebido qualquer incentivo ao procurarem a liderança de suas igrejas e dizerem que algo havia acontecido com elas e que, provavelmente, poderiam estar sendo chamadas para o campo missionário. Alguns desses jovens dizem ter ouvido frases como estas:

- “Olhe meu filho, você ainda é muito novo, tem muito o que aprender...” (e uma pedra é colocada sobre o assunto);

-“ Ah...é o que você está me dizendo, ...vamos ver o que podemos fazer...” (no fundo estão dizendo: pense melhor sobre isso; e volte outra hora).

-“Meu filho temos tantas coisas para fazer aqui em nossa igreja...acho que esse chamado é para você se dedicar mais ao nosso trabalho local...(nesse caso, por falta de visão missionária transcultural, esta é a solução encontrada).

[...] Eu diria que, a princípio, devemos ter como igreja, um coração aberto para ouvir e crer naquilo que estão dizendo. Seria trágico imaginar que podemos ser um grande obstáculo para a expansão do Reino de Deus, por falta de sensibilidade e de amor para com os que se dizem vocacionados“24. 

A igreja que ora a Deus clamando por missões e missionários deve, com a mesma disposição que faz suas orações, participar diretamente em todo o processo. Esse processo inclui:

Despertamento vocacional: O diálogo de Jesus com a samaritana é um bom exemplo disso: “Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse ao povo:— Venham comigo e vejam um homem que me disse tudo o que eu já fiz. Não seria ele, por acaso, o Cristo?”(Jo 4:28,29). Por meio de eventos, mensagens, congressos, momentos de orações e conversas francas sobre missões, a igreja planta no coração do salvo essa consciência de sua responsabilidade. 

 Treinamento: Paulo prezou pelo preparo de seus liderados: “E o que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis, idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2:2, grifo nosso). Jesus preparou Seus discípulos. Paulo preparou Timóteo. Missionários não “nascem prontos”, o chamado de Deus não substitui o preparo. Não é desperdício de tempo e nem de recursos financeiros o período em que uma igreja investe no preparo de quem será enviado ao campo. É imaturidade ir sem o devido preparo por parte do indivíduo, e por parte da igreja é irresponsabilidade enviá-lo.

 Sustento: Jesus teve quem O ajudou durante Seu ministério: “e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Suzana e muitas outras, as quais, com os seus bens, ajudavam Jesus e os seus discípulos”(Lc 8:2,3). Paulo faz um agradecimento à igreja de Filipos devido à ajuda prestada a ele (Fp 4:1-17). Há uma diferença entre missionários e pastores locais. Os pastores têm seu salário regularmente pago por uma igreja local (falando da realidade Batista do Sétimo Dia no Brasil). Já o missionário, não, até mesmo porque, em geral, as missões acontecem onde não tem uma igreja organizada, e poderá levar décadas para que isso aconteça. É comum testemunho de missionários cujo trabalho de anos consistiu apenas em traduzir parte das Escrituras para os povos que estavam evangelizando25. Assim cabe à igreja local, por meio de ofertas e programas específicos sustentá-los financeiramente.

 Apoio: o apoio difere de sustento, um é no aspecto financeiro/material, o outro é emocional. Muitas vezes o missionário está sozinho no campo, ou no máximo acompanhado somente de sua família. Distante de seu lugar de origem, vivendo em outra cultura e em alguns casos até em outro país. É natural a solidão ou mesmo o sentimento de “abandono”. Nesses momentos de intensa saudade, contar com o apoio dos irmãos de fé é fundamental. Paulo teve uma experiência que ele relata: “Porém Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito. E não somente com a chegada dele, mas também pelo consolo que recebeu de vocês. Ele nos falou da saudade, do pranto e do zelo que vocês têm por mim, aumentando, assim, a minha alegria” (2 Co 7:6,7, grifo nosso). Esse apoio pode vir através da oração, de cartas, mensagens, e-mails e fotos. E agora com a tecnologia, chamadas de vídeo, partes do culto de sua igreja de origem servem de consolo em horas de dificuldade. Mas o maior apoio é saber que está sendo cuidado por uma igreja. E caso as coisas não deem certo ele tem para onde voltar, de cabeça erguida, pronto para renovar as forças e recomeçar.

 A Igreja deve assumir suas responsabilidades pela evangelização de todos os povos, pois ela é única instituição que o Senhor vocacionou para essa missão, não cabendo a qualquer outra organização essa tarefa. “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês” (Jo 20:21).

 CONCLUSÃO

A missão é de Deus, Ele é o principal interessado em que as pessoas conheçam a salvação. O objetivo principal de missões é que Deus seja glorificado. Cristo comissionou a Igreja para que fosse até os confins da terra levando as boas novas da salvação: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28:18-20).

E vemos que o apóstolo João escreveu sobre as visões que teve: “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 7:9,10). A Igreja tem a incumbência de fazer missões levando o Evangelho da Salvação para que pessoas de todas as nações, tribos, povos e línguas possam estar diante do Cordeiro para adorá-lO.